segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Olhar pra você é como olhar para uma foto

Olhar pra você é como olhar para uma foto

Sinto que te encaro por meio de uma lente
Eu  te vejo, mas não exatamente
A distância me impede de te ver detalhadamente
E eu nunca sei o que se passa em sua mente

Tudo que me resta é uma projeção
E por isso eu vivo tecendo uma suposição
Vou vivendo nesse jogo de adivinhação
Criando a parte de ti que não me é apresentada
Na busca de manter-me sempre encantada
Mas começo a me perguntar se estou sendo enganada

Então eu tento decifrar seu olhar
Na tentativa de tua alma vasculhar
Mas de seus olhos não emana luz alguma
Por mais que eu me inebrie no teu cheiro que perfuma
O ambiente em que me encontro

Antes teu mistério me causava excitação
Agora me vejo deslocada, pedindo informação
Perguntando pras paredes do seu peito como acessar seu coração
Vagando pelas veias, sem saber qual direção
Acabei chegando no pulmão

Engasgo

Em mim vai crescendo o sentimento de asco
Um rebuliço no estômago, sensação de cansaço
Seu jogo é maldoso, me faz de palhaço
E à essa altura, não importa o que faço
Ou deixo de fazer
O único caminho que eu vejo iluminado
É te perder

Se de teus olhos não emana luz
Se o meu charme não mais te seduz
Eu devo dizer que foi um prazer
As noites que o teu corpo fez meu juízo se perder
Mas agora é hora de me despedir
Não há porque tentar te persuadir

Você nunca me amou

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Presença

Sentiu um toque quente em sua perna.
Despertou.
Seu quarto parecia estranhamente iluminado aquela manhã. Sentada em sua cama estava a mulher que a havia despertado com seu toque quente. Esta sorria.
-Mamãe? –Balbuciou Sofia sentando-se na cama.
A mulher respondeu com outro sorriso.
-A senhora não deveria estar viajando, mamãe? Disse que só voltaria na noite de domingo, e hoje é sábado...
-Hoje é sábado – a mulher repetiu.
-Voltou mais cedo, mamãe?
A mulher novamente respondeu com um sorriso calmo, estava serena.
Sofia notou que havia algo diferente em sua mãe nesta manhã, ela só não conseguia perceber o quê.
Fechou os olhos e abriu-os novamente, então viu. A luz do sol que atravessava a janela de seu quarto tocava a pele de sua mãe de forma peculiar. Parecia que cada célula da mulher emitia luz própria. Ela brilhava.
Seria a mente cansada de Sofia que embaçou tal ilusão?
-Fez boa viagem, mamãe? – a garota perguntou enquanto examinava a pele cintilante da mãe.
-Estou fazendo – esta respondeu e novamente sorriu. Seus olhos também brilhavam, porém estes pelas lágrimas que o embebiam.
Sofia abriu a boca para pedir um copo de leite, mas antes disso a mulher com um impulso pegou suas duas mãos, aproximou-se do rosto da menina e olhando fundo em seus olhos, suplicou:
-Querida, prometa que não irá perder seu tempo com casos tolos. Prometa-me que não irás entristecer seu coração facilmente. Quero vê-la sempre sorrindo e aproveitando o dia! Até o ultimo de sua vida. Estarei sempre com você.
Sofia fora pega de surpresa pelo impulso da mãe, e não conseguiu emitir som algum. Apenas balançou a cabeça respondendo que sim. A mãe novamente se aproximou da garota e beijou-lhe a bochecha.
Extasiada pela calma a garota repousou a cabeça no travesseiro. Transbordava de amor e sono. A última imagem que obteve segundos antes de adormecer fora a da mãe sorrindo.
Dormiu por algumas horas quando foi novamente acordada. Dessa vez pelo som dos passos do sapato que a empregada da casa usava. Aproximando-se da garota, sua voz falhou ao dar-lhe a notícia.
-Sofia, ontem a noite sua mãe estava dirigindo um trecho perigoso da estrada. Seu carro bateu de frente com outro, e ela não resistiu, querida. Ela morreu naquele momento...
Fechando novamente os olhos a garota lembrou de sua mãe e sentiu-se confortada. Sabia que ela estaria sempre ao seu lado.