sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Nos perdemos nos enredos de ambição e ousadia
esquecemos que o amor é nossa única companhia

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Veja! O espetáculo está armado
O ás está jogado
E ninguém pôde vencer
Veja! A promessa foi quebrada
A chatagem profanada
Acabou de anoitecer
Agora veja como fostes tonta
Nos dias que perdestes a conta
De quantas lágrimas deixou rolar
Veja que não houve história
Você repetiu a tragetória
E nem quis acreditar
Não ouviu as juras que recitei
Agora, sozinha, chora
Sofrendo porque foi embora
Todo amor que eu te dediquei.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ruas intercaladas constituem os pavimentos
dos sonhos e amores que caem no esquecimento

sábado, 11 de dezembro de 2010

Pretérito Aceso

Atirou-se em sua confortável cadeira de couro preta, e visualizou sua imagem refletida na tela do monitor desligado a sua frente.
Os anos estavam passando e isso se encontrava estampado em seu semblante gasto e cansado. A cópia da cópia das células de sua pele já não era tão autêntica com o andar do tempo. Passou a mão por seu cabelo bagunçado e sorriu. Pronto, ficava mais bonita assim.

Essa seria uma manhã como outra qualquer para Helene. Acordar, preparar um café amargo, checar os e-mails de seu chefe, coçar a barriga de seu fiel companheiro canino Fido e partir para o trabalho apressada.
Mas, ao digitar o login e entrar em sua caixa de entrada, ela percebeu que um e-mail diferente aguardava ser lido nessa manhã, com o título “pretérito aceso”.
Ergueu levemente uma sobrancelha enquanto esperava a mensagem carregar. Esta dizia:

Querida eu,
daqui 8 anos, se Deus não me levar cedo, estarei sentada em algum lugar do mundo encarando a tela do monitor e lendo essas palavras que eu mesma programei para receber, daqui a exatos 96 meses. Será Roma? Será Paris? Ou continuará sendo São Paulo?
Olá, eu! Será que agora é manhã, tarde ou noite? Eu Perdi a mania de entrar na internet de madrugada? Meu cabelo finalmente cresceu o bastante pra esconder aquela cicatriz feia resultante daquele dia com a bicicleta do Marcelinho? –espero que sim!
Seja como for, eu só estou aqui pra te lembrar da promessa que eu fiz a mim mesma ontem, sobre nunca mais exagerar no leite condensado com Nescau. Nunca mais, hein.
Eu espero mesmo que tudo de bom aconteça na sua vida. (minha, hehe). Saiba que eu rezo todos os dias por você, e torço para que sua vida não caia na rotina normal de todo mundo, como você nunca quis que caísse. Por favor Helene, não alimente uma vida banal. Faça algo por você mesma, e não deixe que o tempo passe correndo por ti. Aproveite cada segundo de liberdade que você tem, agora que é maior de 18 anos!
Pegue o carro da mamãe (ou o seu carro mesmo) e saia da cidade, vá até a lagoa onde não há mais ninguém, sente e espere anoitecer junto às plantas.
Lembra quando você subia sozinha toda tarde na cobertura do prédio da vovó, só pra ver o sol se por? Você levava o violão e tocava uns acordes pensando no João.. Será que ainda o ama? Será que estão juntos?
E aquele projeto ambiental do ensino médio? A quantas anda?
Oh Helene, eu realmente espero que você não arruíne tudo aquilo que eu planejo. Eu realmente espero que tudo corra como nós sempre quisemos...”.

Secou algumas lágrimas, vestiu-se casualmente e saiu batendo a porta atrás de si.
Hoje ela vai ver o pôr-do-sol.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

De Todo Amor

E se eu pudesse meu futuro olhar
E nele eu não te encontrasse,
Minha vida eu ia querer tirar
Por não haver alguém que eu amasse

E quando nessa estrada eu pisar
Tudo, meu bem, será diferente
Seja aqui ou em qualquer lugar
Verás que te quero realmente

Agora eu só vejo você
E sinto a chuva lá fora
De seus braços eu não vou me perder
Saudade que chega e demora

E se um dia você se afastar
Deixando-me só em meu desalento
A alegria vai te acompanhar
E a mim só vai caber sofrimento.

domingo, 14 de novembro de 2010

lamentável mente

Partilhamos na mesma emoção uma só convicção
Partilhamos os nossos problemas com uma só intenção.
Partilhamos a mesma noite, o mesmo filme e a mesma história
Partilhamos abraços, os mesmos medos, carências e trajetória.
Partilhamos o mesmo querer, o mesmo sentir e o mesmo sofrer
O mesmo banco, o mesmo canto e o mesmo anoitecer.
Mas o mundo não é belo, querido, ele é cheio de vaidade
E agora, conformados, partilhamos a mesma saudade.

Vivemos os mesmos dilemas e nos enchemos de promessas
Palavras vazias e noites acordadas, agora confessa
Que durante todos esses meses, só uma coisa nos fez continuar
O medo de não haver alguém com quem pudéssemos contar

É que o mundo não é belo, querido, ele é cheio de vaidade
E agora, conformados, partilhamos a mesma saudade.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Bandeira Branca

Uma bala passou raspando por sua orelha, arrancando-lhe um filete de sangue. Rapidamente levou a mão ao local ferido, afrouxou o capacete e soltou um grito de dor, mas este foi abafado por uma granada que tinha explodido a alguns metros dali.
Tentou correr, mas a perna esquerda penosamente respondia aos comandos do cérebro, inchada e latejante, pintando uma mancha vermelha sob o uniforme verde. Gritou e novamente não foi ouvido, seu companheiro jazia morto e quase que sua esperança também. Mas, depois de tanto treinamento - pensou- não poderia simplesmente se tornar um desertor. Ou poderia?

Heitor nunca apoiou a guerra. Desde criança rezava todas as noites para que seu pai saísse vivo dela, e ao mesmo tempo amaldiçoava-o por ter ido. “não vou me deixar levar como ele”, prometia a si mesmo.
E agora, aqui está ele, agachado atrás de uma barreira de madeira sobre um monte de terra molhado de chuva, honra e sangue alheio. Não conseguia equilibrar-se direito, talvez pelo frio que fazia seus músculos tremerem, talvez pela incredulidade que os fazia retesarem. Não sabia. Só sabia que não agüentaria outra hora ali.

Eram cerca de 150 homens lutando naquela batalha, aproximadamente 75 de cada lado, a maioria, agora, mortos. Heitor caminhou por uma estreita passagem enlameada que contornava a base, abaixou-se sobre outro companheiro morto fez o sinal da cruz em sua testa suada, depois arrancou o cobertor branco que o cobria, levemente manchado de sangue e barro.
Reunindo toda sua bravura e coragem, Heitor levantou-se e com uma feição determinada, começou a caminhar até o monte de terra que separava seu espaço do espaço alheio e, sob os olhares abismados de seus companheiros de guerra, começou a subir esse morro.

Ao que parecia, Heitor estava certamente clamando por um tiro no peito, agindo estupidamente daquela forma, entregando seu corpo ao exército adversário.
Mas, à medida que ele subia aquele morro, os barulhos de disparos vindos do outro lado iam cessando.

Ele finalmente estava em pé lá em cima, e ninguém conseguia acreditar na imagem que seus olhos estavam captando. Havia um homem, perante todos, segurando uma bandeira branca em seus braços abertos, sorrindo e chorando simultaneamente. Deu meia volta e mostrou a bandeira branca para seus companheiros também, e esses aos poucos foram largando as armas e arrancando seus capacetes, todos chorando e também sorrindo.

Ouviram o barulho de palmas. Dezenas de “adversários” aplaudindo, todos extremamente aliviados, já sem ódio no coração.

“Larguem suas armas”, todos gritavam. E em poucos minutos, aquilo passou de guerra à revolução. De agonia à afetividade.

Aquele dia ficaria marcado para sempre, gravado em todos os livros de história.

domingo, 17 de outubro de 2010

Pequena Lisa

*Esse texto foi escrito por mim há uns 3 anos atrás, para uma proposta do meu antigo colégio. Um pouco sentimental demais, eu confesso. hehe*


Cansada de tentar estudar, Lisa vai até o banheiro, entra e tranca a porta. Demorou uma fração de segundo para perceber que a luz estava apagada e a manteve assim. Aquela repentina escuridão estava libertando todos os sentimentos que Lisa evitava sentir.
Tateou a parede mais próxima e se encostou nela, escorregando as costas até sentar no chão, cruzou as pernas e olhou para cima.
Se pensou que na escuridão Lisa não veria nada, está muito enganado. A menina podia ver tudo com clareza.
Passou a mão por seu cabelo desarrumado enquanto sorria para o nada.
Ali sentada, Lisa poderia visitar qualquer lugar, sentir o cheiro de qualquer pessoa, enfim, enxergar tudo! Pois quando os olhos não vêem, a imaginação voa longe, longe...
E mesmo com todos os problemas pelos quais Lisa estava passando, aquela escuridão pôde trazer a ela muita paz e conforto.
Sentiu uma lágrima gelada correr em seu rosto. Estava na hora de levantar e ligar aquele maldito interruptor; acabar com o momento de insanidade e paz, durante aquela noite fria.

Under The Snow [traduzido]

Noite passada eu tive um sonho estranho, porém perfeito. Era eu, caminhando por lugar nenhum, sozinha numa terra desconhecida, quando de repente me deparei com os portões de um parque. “Deve ser um lugar maravilhoso” – eu pensei.
E eu não estava errada. Era um lugar simplesmente maravilhoso.
Havia pássaros brancos e livres voando em volta, um céu branco e tímido sobre a minha cabeça, e muitas árvores altas e brancas compondo um bosque.
Logo eu notei que estava ficando com muito frio, mas para onde quer que eu olhasse, não havia vento.
Então eu descobri a razão do frio quando toquei a primeira árvore. Era feita de gelo! E assim eu percebi que não só todas as árvores eram de gelo, e sim todo o parque.
Eu me senti perfeitamente bem, como se eu estivesse no local ao qual pertenço. Eu lembro da verdadeira felicidade que crescia dentro de mim quando eu comecei a passear pelo parque, e da linda e congelada lua sorrindo lá de cima.
E então eu adormeci. Um sono puro, porém curto. Logo eu estava acordando para aproveitar mais um tempo no parque, quando eu percebi que já não estava com tanto frio. Na verdade, estava começando a esquentar. “Alguma coisa não está certa” – eu pensei.
E novamente, eu não estava errada.
Eu simplesmente não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo: um grande sol amarelo nascendo ao leste, convertendo tudo em água.
Todo o meu palácio estava se tornando um oceano profundo, cheio de decepção. Minhas lágrimas só pioraram o fato, o que me deixou ainda mais triste.

Quando eu finalmente acordei deitada na minha cama, eu vi que tudo estava seco e fiquei realmente aliviada.
Mas eu sabia, sentiria saudade do mundo gelado para sempre...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Under The Snow

Last night I had a strange but perfect dream.It was me, walking down nowhere, just alone, in an unknown land, and suddenly I found the gates of a park. "it must be a wonderful place" - I thought.

And I wasn't wrong. The place was like out of this world, just amazing.

There were free white birds flying around, white shy sky above my head, and lots of high white trees composing a grove.

Suddenly I noticed I was really cold, but there wasn't wind. I found out the reason of the coldness when I touched the first tree. It was made of ice!

And then I realized that not only all the trees were made of ice, but the whole place I was in.

I felt just fantastic, as if I were where I belong to. I remember the substantial happyness I felt inside of me when I started strolling around the park, the beautiful iced moon smiling above.

And then I fell asleep. A pure but brief sleep, cause soon I was waking up to enjoy another time at the park, when I realized it wasn't so cold, actually, it was getting warm. "something is not right"- I thought.

And again I was not wrong.

I just couldn't believe what my eyes were seeing: A yellow sun rising the sky, turning everything to water. All my palace and the whole park was becoming a deep sea, full of deception. My tears just increased the fact, what made me even more sad.


When I finally woke up lying on my bed, I saw that everything was dry and I got really relieved. But I knew, I've missed the iced world forever...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Shakespeariano

Lia concentradamente o livro que Julieta havia lhe emprestado, na esperança de ter mais alguns pretextos para conversar com ela mais tarde. Sabia que era de sua natureza desprezar quaisquer tipos de livro ou assuntos demasiadamente intelectuais, mas alimentava-se do livro que estivera outrora nas mãos de sua amada, como se aquela fosse a última Bíblia num mundo de desgraças.
Até que encontrou um pedaço de uma folha de caderno cuidadosamente colocado entre duas paginas do livro, e logo percebeu ser a letra de Julieta.

Romeo, estimado amigo,
Se encontrou este papel agora é porque realmente tem lido o livro que eu havia lhe emprestado, o que me deixa de fato feliz.
Venho através desta carta dizer-lhe coisas que eu não poderia de outra forma.. e tu sabes bem o porquê.
Confesso que já não é segredo para mim o que sinto por ti, pois um sentimento assim tão forte não pode ser ignorado.
Também devo contar-lhe que não consigo passar um segundo sequer sem ter tua imagem refletida em minha memória, e isso me assombra durante a noite, quando te encontro em todos os meus sonhos.
Romeo, nunca houvestes percebido que tremo interna e externamente quando se aproxima de mim? E que seus lábios são o ponto do qual meus olhos penosamente desviam?
Pensas que é fácil viver com a dúvida de um destino doce, não sabendo ao certo se entregarei-me aos teus braços?
Oh, como é triste não poder emanar todo o fluido que já está transbordando de meu coração, até que ele te afogue de paixão.
Eu simplesmente não devo...
Meu querido, me diga o que devo fazer agora, pois creio que por mim tu sentes o mesmo, por mais que o destino maldito tenha nos colocado afastados...
Já não suporto sofrer”.


Rapidamente Romeo se inclinou sobre sua mochila alcançando o caderno, rasgou um pedaço da ultima folha e escreveu com a letra desajeitada por estar tremendo muito:

Fugiremos, amada minha.


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ambulância

Segurava firmemente sua mão enquanto olhava fixamente em seus olhos, desejando que essa não fosse a ultima vez que os veria abertos, olhando de volta. Respirava junto a ela, compassadamente, movendo levemente o peito.
Sua face exibia um semblante triste, porém confortante.
Não me segurei, cheguei mais perto para saber o que ali estava acontecendo.

Vi-la aproximar-se ainda mais e soprar o rosto da mulher estirada no chão, como se o sopro fosse aliviar seu pesar. A mulher tentou sorrir em agradecimento, mas tudo o que conseguiu fazer foi entortar penosamente seus lábios, fazendo uma careta quase que monstruosa. Ela sentia dor.
Ainda segurando sua mão, com os olhos brilhando, a menina sussurrou “Você é tudo para mim, mãe”.
Novamente, a mãe não conseguiu responder verbalmente, apenas retribuiu o olhar da filha, carregado de sentimento, com certo ar de ‘adeus’.

Examinando seu corpo deitado percebi que uma pequena (porém considerável) massa de sangue jorrava de um ponto de sua barriga, o qual ela tentava com grande esforço apalpar, mas a dor parecia maior.
Deve ter uma bala ali- eu pensei. – Como será que ela foi acertada? – Mas meus pensamentos foram interrompidos por um gesto da filha, que inclinou novamente seu corpo sobre o da mãe, dessa vez para beijar-lhe a testa.

-Mãe, o nome daquela musica que você me perguntou outro dia é “a heart to hold you”, desculpa por não ter me lembrado na hora.
Tudo que a mãe conseguiu pedir foi “cante”. E então, puxando mais um porção de ar, a filha cantou um breve trecho de uma triste canção, desafinada pela dor.
Sorrindo, a mulher fechou os olhos e deixou a cabeça pender para a esquerda.
Ela se foi.
Nesse momento a filha desafinou ainda mais a canção, que deu lugar a um choro abatido e introspectivo.

A ambulância chega. Entram mãe e filha.
Vejo a ambulância se distanciar.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pequeno Italiano

Andava sujo e solitário pelas ruas de uma Veneza medieval o pequeno Estevão, buscando comida e abrigo, assim como escapar da tenebrosa peste.
Dia após dia o rapazinho enfrentava os descasos que se passa ao morar na rua, e todos os desaforos e mentiras de outros comparsas indigentes que habitavam as redondezas.
Certa tarde de verão, o menino caminhava pelas beiras do rio quando topou com uma moeda de ouro caída na grama próxima à margem. Sentiu-se sortudo, o que era extremamente raro em sua vida.
Estevão se abaixou ligeiramente para pegar a moeda que agora lhe pertencia, mas logo sentiu uma irrefutável dor na mão, que agora se encontrava abaixo da sola do sapato do pesado Carlo, seu pior inimigo. Escorria sangue e a moeda havia lhe escapado entre os dedos.
Amaldiçoava sua burrice por ter ficado tão fascinado com a moeda e não ter olhado para os lados antes de se abaixar. Agora Carlo e toda sua trupe o olhavam de cima abaixo e não economizavam risadas traiçoeiras e comentários censuráveis.
Foram embora carregando o motivo da felicidade instantânea de Estevão no bolso, sem saber que ele nunca mais se esqueceria desse episódio, alimentando sua fome por vingança.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

limoeiro

Ela andou durante horas, não sabia onde estava nem para onde estava indo, apenas andou.
Finalmente chegou a um limoeiro. Não havia mais nada lá. Nem chão, nem céu sobre sua cabeça, apenas um antigo e encurvado limoeiro. Abatido pela seca.
Então ela se deu conta de tudo o que mais precisava naquele momento, era sentir o gosto azedo e cítrico de um limão verde entre seus lábios, a acidez entre os poros de sua língua, pele e ranhuras nos dentes. Ela cobiçava isso.
Procurou avidamente por uma fruta naquele pé, e quanto mais procurava mais sua vontade aumentava, e nessa medida aumentava também sua desesperada decepção ao ver que aquele limoeiro não havia gerado fruto. Estava na época errada. Era melhor desistir, não há nada aqui que pudesse suprir seu anseio pelo azedume.

domingo, 15 de agosto de 2010

No Fear

Pedem-na que feche os olhos e dizem que tudo estará bem pela manhã. Mas como ela pode confiar à escuridão seus olhos fechados, se isso atiçaria uma série de incertezas e medos, na calada da noite?
Não, ela não vai fechar os olhos, por ora. Ela não vai se entregar ao desafio de passar horas a fio solitária, deitada em sua cama dura, sem nenhuma esperança além da de que o sol vai aparecer em algum momento.
O Sol! Agora lembrou. Onde estaria o astro agora, que não iluminando seu quarto, já emerso em desespero?
Sentiu-se distante e fria, em algum lugar entre Urano ou Netuno.
E a noite corria...
Quando já não suportava segurar os olhos abertos, entregou-se ao repouso, com suas vísceras já entaladas de cansaço, seu corpo depois de Plutão.
E a mente voa longe, longe...

Não tema, minha querida. Durante a noite, há escuridão.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Aos 13 anos, em meus devaneios noturnos antes de dormir, eu fechava os olhos e perguntava a Deus se eu agüentaria mais 47 anos de vida, se cinco décadas não era tempo demais para um garoto continuar nessa terra, vivendo à base de pão e sertão.
Os anos passavam e cada vez mais eu agradecia à Virgem Maria por ter saído daquela seca miserável onde aquele povo-sem-raça construía suas casas com barro e pouco esmero.
Aos 30, já estava acostumado com a vida na cidade, mulheres, moeda e escritório. Mas, por Deus, mais 30 anos é tempo demais para um inconfidente.

Aos 60, quando a luz diurna penetra meu quarto e me faz despertar, eu rogo a Deus em sua misericórdia por mais 1 dia, e mais outro, porque 60 anos é pouco tempo para um sertanejo
.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Última Valsa

Ela me pediu para descansar em paz e disse que estava tudo acabado agora.
-Tudo acabado, como assim? Enquanto meu coração bater e bombear sangue para o meu corpo, nada está acabado! –Supliquei.
-Pois é, o problema é que ele, há um tempo, não bate mais. –Ela respondeu com um sorriso. -Vamos, pare de negar que tudo se foi. Apenas vista uma roupa confortável e me acompanhe. Está frio demais aqui fora, não me faça esperar.
-Frio demais? Deve estar de brincadeira! –Eu falava enquanto senti os braços dela envolverem-me como pedras de gelo. –Como é que você, gélida, pode sentir frio?
-Sinto coisas que vocês humanos nunca imaginaram que possa existir.

Então ela me carregou em seus braços até o meu apartamento, atravessou a porta sem precisar de chave e me largou estendida em minha cama. “Foi aqui que eu te encontrei” desabafou.
Troquei de roupa rapidamente, escolhi minha longa e confortável saia, um par de meias e minha blusa preta. Tudo preto.
Comecei a me despedir dos meus gatos, um por um, enquanto ela acariciava meu cabelo. Senti seu ar frio em contato com minha orelha. “Hora de partir” ela sussurrou. Respondi com um sorriso e deixei minha alma leve. Era tudo que me restava, agora. Minha alma.
Ela pegou-me em seu colo e eu me senti leve, muito leve. Só não entendi por que as lágrimas insistiam em rolar no meu rosto.
“Isso é normal” ela explicou ao me ver chorar “Todos que dão o mínimo de valor à vida ficam tristes na hora de partir”.

Viajamos juntas durante horas, me pareceu. Ao longo do caminho eu comecei a ouvir notas muito distantes e uma voz suave cantava uma canção. Era a última valsa, percebi.
Deslizei pelo corpo dela e parei à sua frente. Estávamos flutuando. Peguei uma de suas mãos e a estiquei junto com a minha, a outra pus em suas costas. Senti muito frio, mas isso não importava.
Dei o primeiro passo, e ela me acompanhou. Olhei em seus olhos e vi que ela queria dançar também. Começamos a girar magnificamente, descer e subir, dando os passos da mais doce valsa que alguém já dançou, rodopiando no ar.
O relógio soou. Ela estacou, aproximou-se dos meus lábios e soprou.
Frágil, minha alma amoleceu em seus braços.

Fui conduzida ao reino dos céus e nada mais me lembro.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Tyler não era um cara qualquer. Tyler tinha dinheiro, fama, fartura, e solidão.
Tyler era cercado e vigiado por todos. O que comeu, o que vestiu, o que falou e até mesmo o que cuspiu virava capa de jornal.
Oh, como é adorável ser adorável!
Ou talvez não.
Por mais que esbanjasse riqueza, Tyler era pobre, podre e sozinho. E ele estava cansado disso. Apenas seu belo rostinho não mais o satisfazia, ele queria – ele
precisava – de alguém que fosse maior que seus casos-de-uma-noite, onde a mulher, sempre, irrevogavelmente, obtinha seus 15 segundos de fama. “Mais um caso do ator”.
Tyler já não sabia como agir.
Tyler já não agüentava chorar escondido no camarim 5 minutos antes de entrar no palco.
Tyler já não agüentava segurar o sorriso brilhante num programa de televisão domingo à tarde.
Pobre Tyler, você foi sufocado por tudo aquilo que sempre correu atrás..

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tremendo, eu segurava meu coração em minha mão, estendida a você.
Com impaciência, você se negava a aceitar. E à medida que o sangue escorria pelo meu braço, as lágrimas encharcavam meu rosto.
Eu não sentia dor física. Doía muito mais a sua reprovação em aceitar o coração pulsante e amoroso que eu entreguei (ou pelo menos tentei) a você.
Decepcionada, abaixei a mão e a cabeça, e com passos curtos voltei pra casa.
Costurei meu peito com linha preta.
Acho que agora eu aprendi a amar.

domingo, 9 de maio de 2010

Grave, gravidade.

Aqueles dois corpos estavam cada vez mais distantes. A força de atração era quase nula- desprezível.
Mas perante a sociedade estavam juntos, é claro, uma relação tão longa não poderia simplesmente acabar assim.
Em repouso, sonhavam calados em sair de casa. Iminência de movimento! Tudo o que precisavam era da ação de uma força externa que interrompesse essa inércia inconveniente.
Ela sabia que sua pulsação não mais acelerava quando ele estava por perto.
Ele percebia que a dinâmica não reinava mais nas conversas.
Toda ação acometia numa reação, e eles já não agüentavam o peso da situação.
A resultante vetorial sempre apontava a mesma direção: separação.
Só não fazia sentido que uma relação tão longa simplesmente acabasse assim.

Ah, eles nunca gostaram de física...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Leão e a Raposa

Há muito tempo atrás, 8 séculos passados, havia uma raposa e um leão. Eles pertenciam a reinos diferentes, porém moravam relativamente perto um do outro.
A raposa era miserável, morria de fome e não tinha dinheiro algum, então freqüentemente ela viajava até os reinos mais próximos para conseguir comida ou roubar de alguém. O leão também passava fome, mas ele tinha uma pequena fortuna em esmeraldas que, infelizmente, não eram aceitas como dinheiro em seu reino, então ele resolveu vendê-las.
A raposa estava caminhando quando de repente topou com o leão e várias esmeraldas em torno dele. Ela perguntou, animada “Oh grande leão, você está dando esmeraldas?” O leão riu e respondeu “não posso dá-las, pois sou pobre, então estou vendendo.” A raposa queria ter as esmeraldas, pois ela poderia comprar comida em seu reino (onde as esmeraldas eram aceitas), mas ela não tinha dinheiro para dar ao leão, então ela mentiu “Eu posso levar duas esmeraldas agora, e amanhã cedo eu volto para pagar.”
O leão tinha bom coração e caiu no papo da raposa, que levou as duas esmeraldas e conseguiu comida para aquele dia. Na manhã seguinte, bem cedo, a raposa apareceu na tenda do leão e disse “Oh grande leão, eu vim aqui, pois quero mais esmeraldas”. Mas o leão tinha boa memória e respondeu “Não, você já está me devendo o pagamento de duas esmeraldas.”
A raposa então suplicou por mais esmeraldas e prometeu que pagaria no dia seguinte. O leão estava com muita fome, mas confiou na raposa e deu as esmeraldas. Ela voltou feliz ao seu reino e comeu bastante naquela noite.
No dia seguinte, a raposa apareceu de novo na tenda do leão, pedindo por mais esmeraldas, prometendo pagar na manhã seguinte. O leão percebeu que a raposa estava cada vez mais forte, enquanto ele estava magro e fraco. Ele se aborreceu com ela e rugiu “Essa é a ultima vez que eu te deixo levar esmeraldas, se você não pagar amanhã, eu vou te comer.” A raposa mentiu mais uma vez e conseguiu levar as esmeraldas ao seu reino, jantou e ficou bem forte.
Na manhã seguinte, lá estava a raposa na tenda do leão, este de tão fraco não conseguiu dizer uma só palavra, apenas estendeu a pata esperando receber o pagamento. A raposa traiçoeira aproveitou-se da fraqueza do leão e, sem hesitar, o comeu.

sábado, 17 de abril de 2010

Domingo

Ela despertou com uma grave dor de cabeça e um espaço vazio ao lado na cama. Já amaldiçoando santo Antônio casamenteiro, levantou-se rapidamente e vestiu o roupão com violência. “onde será que se meteu aquele verme?” perguntava a si mesma.
Até que topou com um envelope vermelho cuidadosamente posto ao lado do porta-retrato em cima da escrivaninha. Impaciente, abriu e leu o que estava escrito na folha dentro dele.
Oh Tereza, amor de minha vida.Sei que consegue ver todos os motivos do mundo para me odiar, mas te suplico que não o faça. Se eu errei, peço perdão em nome de todos os santos que existem no céu. (Eu sei que você recorre a eles).Oh Tereza, Deus sabe que eu nunca deixei de te amar, um segundo sequer, e que eu morro de felicidade quando tu me ligas pedindo pra voltar pra casa mais cedo, mas às vezes não posso atender.Quero que saibas também que a carta que tu me destes no começo do namoro eu sempre leio e guardo até hoje comigo, na minha gaveta de meias, pode conferir.Oh Tereza, eu nunca me esqueço do castanho-avermelhado de seus olhos, minha cor preferida, pode acreditar.Não esqueço também que você adora o luxo de comer bombons de cereja da padaria do seu Alfredo no café-da-manhã, por isso fui ali comprar.Volto logo,João Ricardo.
Com lágrimas nos olhos e um sorriso estampado na cara, Tereza aguardou.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Pra não dizer que eu sou solitária, eu digo que sou singular.

domingo, 7 de março de 2010

acorde

Ela nunca soube lidar ao certo com essa tal de solidão.
E tudo ficou muito mais difícil depois que ele viajou.
Durante aquela quaresma os dias foram longos, as noites foram frias e o jantares silenciosos.
Os passeios foram suspensos, os sorrisos foram quebrados e a televisão foi abolida.
Tudo que ele havia deixado foi um sofá mofado e um álbum com recordações. As mesmas fotos ela admirou durante os 40 dias, antes de cair no sono pesadamente com o rosto úmido de lágrimas.
Ela já não sabia o que fazer.
Afinal, quem a acordaria com um beijo e um chocolate? Quem entraria em seu quarto cantando canções antigas? Quem ajeitaria a alça de sua blusa toda vez que ela escorregasse por seu ombro?
Ninguém.
E esse tal de ninguém passou todos os dias e todas as horas ao lado dela, sendo seu deprimente (e único) companheiro.
40 dias nunca foram tão extensos e penosos.

Até que, em fim, ela acordou.
Ele sempre esteve ao seu lado.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

E o mais estranho de tudo isso foi deitar a cabeça no travesseiro e sentir o seu cheiro.
Ora, como eu poderia sentir seu cheiro ali, nunca tendo aquele tecido entrado em contato com sua pele?
De olhos fechados, comecei a inventar razões lógicas para a presença de seu perfume.
Me perguntei se não teria o travesseiro sonhado junto comigo, te encontrando toda noite naquele lugar-que-só-nós-conhecemos.
Anestesiada. Era assim que eu me sentia. Nenhuma dor ou pesadelo me alcançaria aquela hora. Não enquanto estivesse ali comigo.