domingo, 7 de março de 2010

acorde

Ela nunca soube lidar ao certo com essa tal de solidão.
E tudo ficou muito mais difícil depois que ele viajou.
Durante aquela quaresma os dias foram longos, as noites foram frias e o jantares silenciosos.
Os passeios foram suspensos, os sorrisos foram quebrados e a televisão foi abolida.
Tudo que ele havia deixado foi um sofá mofado e um álbum com recordações. As mesmas fotos ela admirou durante os 40 dias, antes de cair no sono pesadamente com o rosto úmido de lágrimas.
Ela já não sabia o que fazer.
Afinal, quem a acordaria com um beijo e um chocolate? Quem entraria em seu quarto cantando canções antigas? Quem ajeitaria a alça de sua blusa toda vez que ela escorregasse por seu ombro?
Ninguém.
E esse tal de ninguém passou todos os dias e todas as horas ao lado dela, sendo seu deprimente (e único) companheiro.
40 dias nunca foram tão extensos e penosos.

Até que, em fim, ela acordou.
Ele sempre esteve ao seu lado.