Perdida entre os caminhos incertos na estrada da vida, a pequena garota se sentia sozinha em meio à multidão.
Sabia que havia um buraco, faltava matéria pra compor a substância de seu coração.
Ela vagava sem rumo e sem interesse em qualquer aspecto da vida alheia
Em seu peito, sabia que faltava uma faísca, uma centelha
Para reacender aquele sentimento que ela há muito havia esquecido
E por não se interessar por mais ninguém, julgava ser caso perdido.
A luz no fim do túnel era disforme e dispersa
Era um brilho inalcançável, então a pequena garota andava sem pressa.
Até que em um dia qualquer, sem nenhuma expectativa de mudança
A pequena garota encontra o grande rapaz, e em seu peito brota uma esperança
Aos poucos, os dois foram se chegando e se deixando conhecer
E entre tantas semelhanças, havia em ambos o encanto pelo anoitecer
A luz no fim do túnel foi ganhando forma e adquirindo um brilho característico
Havia um encanto acolhedor, um certo fulgor místico
Quando uma solidão encontra a outra, atenua a incerteza
O vento frio e a noite escura revelam a sua beleza
Beleza essa que meus olhos não serão capazes de esquecer
E quando o dia chega ao fim, tua lembrança vem me acometer.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Pela Estrada a Fora Eu Vou Tão Sozinha
Nessas estradas eu vou encontrando resquícios de uma vida que eu julguei que estivesse perdida.
Descobri que é preciso mover-se do lugar para a mente poder se expandir, pois ninguém pode prender ao chão os pés que foram feitos para caminhar.
Ando à procura da auto-destruição que me fará conhecer meu verdadeiro ser, que agora se encontra coberto pelos restos de sujeira com a qual esse mundo moderno me soterrou. É preciso cavar para se desvencilhar dos escombros sujos dessa falsa felicidade. Só andando pelo mundo eu vou descobrir o que é amor de verdade. É o amor que aceita o movimento, que não constrói muros, não prende em tormento.
Ah, esse mundo tem beleza demais pra ficar escondida dos meus olhos.
Descobri que é preciso mover-se do lugar para a mente poder se expandir, pois ninguém pode prender ao chão os pés que foram feitos para caminhar.
Ando à procura da auto-destruição que me fará conhecer meu verdadeiro ser, que agora se encontra coberto pelos restos de sujeira com a qual esse mundo moderno me soterrou. É preciso cavar para se desvencilhar dos escombros sujos dessa falsa felicidade. Só andando pelo mundo eu vou descobrir o que é amor de verdade. É o amor que aceita o movimento, que não constrói muros, não prende em tormento.
Ah, esse mundo tem beleza demais pra ficar escondida dos meus olhos.
domingo, 15 de dezembro de 2013
O Mágico e a Sonhadora
Andava
distraída pelo museu quando foi subitamente tomada por uma incontrolável
fadiga. Nada ali a interessava mais do que a poltrona que repousava acima do
tapete preto no canto direito do aposento.
Sentou-se confortavelmente enquanto lutava contra a força que demandava que seus olhos se fechassem, mas era tarde demais.
Poucos segundos depois, Paloma já estava flutuando em um majestoso palácio persa, em meio a altos pilares, tapetes decorados e escadarias douradas.
Como todo bom sonho encantado, só poderia acontecer o óbvio: a mocinha tropeçou em uma lâmpada mágica. Grande achado!
Sabia como proceder nessa situação. Esfregou a lâmpada e com grande alegria recebeu o grande senhor mágico coberto em manto vermelho e sob uma boina azul. A estranha criatura recém-aparecida fez menção de que iria falar, mas Paloma o interrompeu e declarou: “Já sei, posso verbalizar três desejos”. – e esboçou um sorriso orgulhoso. O gênio apenas concordou com um aceno afirmativo da cabeça.
“Mas, pensando bem, eu só tenho uma coisa a pedir para o senhor...” – Falou timidamente a menina enquanto olhava para o chão.
O gênio aguardou.
Se me abençoasses com a oportunidade, eu gostaria de poder voltar aquele momento em que a paz e a tranquilidade dentro de mim foram plenas. Me envolveria mais uma vez nos braços dele, e novamente observaria a noite nos acalentando com seu sopro frio. Beijaria os mesmos lábios, escutaria a mesma melodia, e mais uma vez eu me entregaria com a ternura que agora inunda o meu coração.
Sentou-se confortavelmente enquanto lutava contra a força que demandava que seus olhos se fechassem, mas era tarde demais.
Poucos segundos depois, Paloma já estava flutuando em um majestoso palácio persa, em meio a altos pilares, tapetes decorados e escadarias douradas.
Como todo bom sonho encantado, só poderia acontecer o óbvio: a mocinha tropeçou em uma lâmpada mágica. Grande achado!
Sabia como proceder nessa situação. Esfregou a lâmpada e com grande alegria recebeu o grande senhor mágico coberto em manto vermelho e sob uma boina azul. A estranha criatura recém-aparecida fez menção de que iria falar, mas Paloma o interrompeu e declarou: “Já sei, posso verbalizar três desejos”. – e esboçou um sorriso orgulhoso. O gênio apenas concordou com um aceno afirmativo da cabeça.
“Mas, pensando bem, eu só tenho uma coisa a pedir para o senhor...” – Falou timidamente a menina enquanto olhava para o chão.
O gênio aguardou.
Se me abençoasses com a oportunidade, eu gostaria de poder voltar aquele momento em que a paz e a tranquilidade dentro de mim foram plenas. Me envolveria mais uma vez nos braços dele, e novamente observaria a noite nos acalentando com seu sopro frio. Beijaria os mesmos lábios, escutaria a mesma melodia, e mais uma vez eu me entregaria com a ternura que agora inunda o meu coração.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
Moonlight
Por sobre as nuvens a lua observava aquele casal peculiar que se mirava na calada da noite.
Ele, cão, desafiadoramente mostrou os dentes. Ela, lobo, astutamente pôs-se a admirar.
Rodeavam-se apenas observando. E quanto mais observavam, mais se impressionavam.
Antes não imaginavam que poderiam ter tanto em comum. Um cão e um lobo. Veio um do outro, ou foi similaridade que os aproximou?
A cada passo, chegavam mais perto. E quanto mais perto chegavam, mais agradava o cheiro.
Faros aguçados, pelos eriçados, caninos afiados e olhares astutos.
Permaneceriam sob o brilho da lua, em meio a esse oceano perdido na escuridão da incerteza.
Ele, cão, desafiadoramente mostrou os dentes. Ela, lobo, astutamente pôs-se a admirar.
Rodeavam-se apenas observando. E quanto mais observavam, mais se impressionavam.
Antes não imaginavam que poderiam ter tanto em comum. Um cão e um lobo. Veio um do outro, ou foi similaridade que os aproximou?
A cada passo, chegavam mais perto. E quanto mais perto chegavam, mais agradava o cheiro.
Faros aguçados, pelos eriçados, caninos afiados e olhares astutos.
Permaneceriam sob o brilho da lua, em meio a esse oceano perdido na escuridão da incerteza.
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Segredo Nosso
Se a minha mão tu segurasses,
Sentiria tudo aquilo que não posso dizer
Tu ouvirias as palavras agora emudecidas
E a minha dor, tua alma iria conhecer
Sentiria tudo aquilo que não posso dizer
Tu ouvirias as palavras agora emudecidas
E a minha dor, tua alma iria conhecer
Se em teus braços me envolvesse,
Saberias o quão perdida estou
Teu pranto logo surgiria
Tentando lavar a dor que restou
Saberias o quão perdida estou
Teu pranto logo surgiria
Tentando lavar a dor que restou
Se os teus lábios os meus tocassem,
Tu ficarias ciente da minha solidão
Sentirias a vontade que eu sinto
De renegar o meu coração
Tu ficarias ciente da minha solidão
Sentirias a vontade que eu sinto
De renegar o meu coração
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Necrofeeling
Parte um
“Te
pego aí às 9h?” Foi a última coisa que ouvi dos lábios de Bruno pelo telefone
naquela tarde nublada e fria no dia em que pretendíamos sair a noite para
jantar.
“8h.” Corrigi. “Sinto muita fome à noite, não gosto de esperar.” Eu disse. E então ele desligou.
Encaixei o telefone na base e fui ao banheiro tomar banho para me arrumar.
“Merda!”. Raspei a lâmina na posição contrária à indicada na embalagem e acabei cortando minha virilha. A água quente que fluía do chuveiro logo lavou o sangue, mas deixou a ardência que me fez lacrimejar.
“Maldita cicatriz.” Justo no dia em que vou ver Bruno.
Andei até meu quarto e despi a toalha. Olhei-me no espelho. “Magra demais. Pálida demais. Pequena demais.” Discorri sozinha. Eu sabia que era tudo isso que alguém pensava quando me via sem roupa. Sorte a minha, foram poucas as pessoas que tiveram esse (des?)prazer. Olhei novamente para o espelho e não pude deixar de notar “Pareço um cadáver.” Até que não era uma má imagem.
“8h.” Corrigi. “Sinto muita fome à noite, não gosto de esperar.” Eu disse. E então ele desligou.
Encaixei o telefone na base e fui ao banheiro tomar banho para me arrumar.
“Merda!”. Raspei a lâmina na posição contrária à indicada na embalagem e acabei cortando minha virilha. A água quente que fluía do chuveiro logo lavou o sangue, mas deixou a ardência que me fez lacrimejar.
“Maldita cicatriz.” Justo no dia em que vou ver Bruno.
Andei até meu quarto e despi a toalha. Olhei-me no espelho. “Magra demais. Pálida demais. Pequena demais.” Discorri sozinha. Eu sabia que era tudo isso que alguém pensava quando me via sem roupa. Sorte a minha, foram poucas as pessoas que tiveram esse (des?)prazer. Olhei novamente para o espelho e não pude deixar de notar “Pareço um cadáver.” Até que não era uma má imagem.
Olhei
impacientemente para o relógio e a angulação dos ponteiros marcava 9h10min. Era
verão e o sol demorava muito para se pôr aqueles dias, e eu sabia que Bruno
detestava a luz do sol.
Um carro preto avançou vagarosamente em direção a mim e por uma fração de segundo eu me perguntei se ele não iria parar, e dei um leve pulo para trás, sentindo-me mais segura na calçada. O carro parou. Vi que Bruno sorria por detrás do para-brisa. Entrei no carro.
“Eu tinha dito 8h”, bradei com a mão entre os nossos lábios para impedir o beijo que ele ia me dar.
Com uma sobrancelha erguida, ele respondeu “Por quê nos vermos tão cedo se temos toda a noite só para nós dois?” e sorriu “Por quê olhar seus cabelos sendo iluminados pela luz do sol se posso ver teu peito nu sendo banhado pela claridade da lua?”. E piscou com um olho só. Sorri e fiz o mesmo. Ele sempre vencia qualquer argumento meu. Saímos.
Um carro preto avançou vagarosamente em direção a mim e por uma fração de segundo eu me perguntei se ele não iria parar, e dei um leve pulo para trás, sentindo-me mais segura na calçada. O carro parou. Vi que Bruno sorria por detrás do para-brisa. Entrei no carro.
“Eu tinha dito 8h”, bradei com a mão entre os nossos lábios para impedir o beijo que ele ia me dar.
Com uma sobrancelha erguida, ele respondeu “Por quê nos vermos tão cedo se temos toda a noite só para nós dois?” e sorriu “Por quê olhar seus cabelos sendo iluminados pela luz do sol se posso ver teu peito nu sendo banhado pela claridade da lua?”. E piscou com um olho só. Sorri e fiz o mesmo. Ele sempre vencia qualquer argumento meu. Saímos.
No restaurante, eu comi um saboroso pedaço de carne enquanto Bruno me fitava com olhar de cão caçador por detrás de suas lentes retangulares, e vez por outra iniciava alguma conversa sobre seu novo projeto no escritório. Ele não comeu naquela noite, apenas bebeu o vinho que jazia em uma grande taça de cristal à sua frente. Distraído olhando para mim enquanto levava a taça à boca, algumas gotas da bebida escorreram pelo seu queixo e pingaram na sua camiseta de linho branco. A mim pareceu que seu queixo e roupa estavam manchados de sangue, e por um momento ele sorriu. Eu sabia que ele tinha feito a mesma associação.
“Então, pronta?” Ele me perguntou assim que eu coloquei o último pedaço do bife na boca. Balancei positivamente a cabeça enquanto mastigava. Essa noite ele me levaria para ver as estrelas. Essa noite ele me levaria para as estrelas. Essa noite ele. Essa noite.
Enquanto
ele nos dirigia pela estrada, pude ouvir uma melodia agradável saindo do
aparelho de som do seu carro e pude distinguir uma voz que na canção dizia “I can't
seem to find my way upon this lonely road...”
Tombei minha cabeça tonta pelo vinho para o lado enquanto ia pensando o quão
breve e intensa havia sido minha experiência com o homem que agora sentava ao meu lado, me levando para as estrelas. Conhecíamo-nos a menos de
dois meses, e mesmo assim, ele era a minha melhor companhia. Eu sentia que ele pensava o mesmo. Havia
algo que nós dois entendíamos.
Então chegamos.
Estabelecendo contato visual comigo, ele tirou do bolso um pequeno controle e apertou um botão. Logo os vidros das janelas e o teto do carro se abriram. Meu sorriso abriu. Minhas pernas abriram.
Ele apertou outro botão e os bancos do carro começaram a se inclinar para trás. Eu nem sabia que aquilo era possível. Ficaram assim como que duas camas. Sobre nossas cabeças, um belo céu estrelado como um quadro pendurado na parede. Ele se aproximou por cima de mim enquanto eu observava sua silhueta iluminada pela luz das estrelas. Seus lábios levemente tocaram meu pescoço. Minha mão levemente tocou sua calça.
Bruno manteve seus lábios sobre meu pescoço por alguns minutos. Primeiramente, pensei que ele havia gostado do cheiro do meu perfume, mas passado um tempo eu percebi que ele estava, na verdade, medindo a minha pulsação. O sangue que corria por sob minha pele o extasiava de alguma maneira, e o êxtase dele, era o meu.
Estabelecendo contato visual comigo, ele tirou do bolso um pequeno controle e apertou um botão. Logo os vidros das janelas e o teto do carro se abriram. Meu sorriso abriu. Minhas pernas abriram.
Ele apertou outro botão e os bancos do carro começaram a se inclinar para trás. Eu nem sabia que aquilo era possível. Ficaram assim como que duas camas. Sobre nossas cabeças, um belo céu estrelado como um quadro pendurado na parede. Ele se aproximou por cima de mim enquanto eu observava sua silhueta iluminada pela luz das estrelas. Seus lábios levemente tocaram meu pescoço. Minha mão levemente tocou sua calça.
Bruno manteve seus lábios sobre meu pescoço por alguns minutos. Primeiramente, pensei que ele havia gostado do cheiro do meu perfume, mas passado um tempo eu percebi que ele estava, na verdade, medindo a minha pulsação. O sangue que corria por sob minha pele o extasiava de alguma maneira, e o êxtase dele, era o meu.
Por falar em cheiro, fui sentindo que estava ficando cada vez mais intenso
um cheiro azedo que pairava no ar desde que eu tinha entrado no carro
pela primeira vez naquela noite. Era tão intenso e fétido que mal podia prestar atenção em suas carícias.
"Bruno, que cheiro é esse?" Indaguei. Ele levantou a cabeça e me
lançou um olhar de censura. "Não sinto cheiro algum além do seu perfume."
respondeu e voltou novamente ao que estava fazendo.
Aquele cheiro podre estava me deixando intrigada. Eu nunca tinha sentido nada parecido. Sabia que exalava do porta-malas, então sem que ele percebesse a minha intenção, insisti para que fôssemos para o banco de trás. "Para ficarmos mais confortáveis", lancei.
Aquele cheiro podre estava me deixando intrigada. Eu nunca tinha sentido nada parecido. Sabia que exalava do porta-malas, então sem que ele percebesse a minha intenção, insisti para que fôssemos para o banco de trás. "Para ficarmos mais confortáveis", lancei.
Acomodados no banco traseiro do
carro, Bruno segurou meu pé direito e começou a beijá-lo. Sem tirar os lábios
de minha pele, ele foi subindo a cabeça beijando meu tornozelo, panturrilha,
joelho, até chegar em minhas coxas.
Ele mordeu. Eu gemi. E o cheiro permanecia.
Beijando seu ombro, fiz com que ele se sentasse no banco e sentei em cima dele, de frente para ele. O compartimento do porta-malas estava destampado. E foi então que os meus olhos viram.
Ele mordeu. Eu gemi. E o cheiro permanecia.
Beijando seu ombro, fiz com que ele se sentasse no banco e sentei em cima dele, de frente para ele. O compartimento do porta-malas estava destampado. E foi então que os meus olhos viram.
Não, não podia ser de verdade...
Parte dois
Ela estava sentada no meu colo quando eu senti que todos os músculos de seu corpo haviam retesado.
E não foi que a filha da puta me trouxe para o banco de trás pra poder descobrir a fonte do odor? Será que ela viu?
Instintivamente procurei beijar-lhe os lábios para cobrir com meu rosto seu campo de visão, mas quando me aproximei de sua face, percebi que ela estava com os olhos arregalados e as bochechas vermelhas denunciavam o sangue que por ali corria.
Ela estava sentada no meu colo quando eu senti que todos os músculos de seu corpo haviam retesado.
E não foi que a filha da puta me trouxe para o banco de trás pra poder descobrir a fonte do odor? Será que ela viu?
Instintivamente procurei beijar-lhe os lábios para cobrir com meu rosto seu campo de visão, mas quando me aproximei de sua face, percebi que ela estava com os olhos arregalados e as bochechas vermelhas denunciavam o sangue que por ali corria.
Seus gemidos e suspiros haviam
cessado. Ela estava muda. Ela estava petrificada. Havia visto o meu segredo.
Não, não podia ser verdade...
Não, não podia ser verdade...
Parte três
“Então é isso. Cadáveres. É isso, Bruno.” sussurrei, e só depois que as palavras foram ditas eu pude perceber o quanto gaguejei ao falar. Minha voz falhou. Minha respiração falhou. Essa noite não falhou.
Encarei os olhos dele e percebi que ele estava atônito. Eu estava atônita. Mas ele não me conhecia.
Rapidamente levou a mão a minha boca esperando abafar os gritos que ele esperava que eu desse, ou esperando não ouvir meu choro de desespero. Afinal, eu estava no meio de lugar nenhum, na companhia de um homem que eu pouco conhecia e dois cadáveres em avançado estado de decomposição. Bruno continuou tampando minha boca, dessa vez ainda com mais força.
“Então é isso. Cadáveres. É isso, Bruno.” sussurrei, e só depois que as palavras foram ditas eu pude perceber o quanto gaguejei ao falar. Minha voz falhou. Minha respiração falhou. Essa noite não falhou.
Encarei os olhos dele e percebi que ele estava atônito. Eu estava atônita. Mas ele não me conhecia.
Rapidamente levou a mão a minha boca esperando abafar os gritos que ele esperava que eu desse, ou esperando não ouvir meu choro de desespero. Afinal, eu estava no meio de lugar nenhum, na companhia de um homem que eu pouco conhecia e dois cadáveres em avançado estado de decomposição. Bruno continuou tampando minha boca, dessa vez ainda com mais força.
Mas ele não me conhecia.
Como a testa e os olhos eram as únicas partes de meu rosto que não estavam escondidas pela palma da mão dele, mostrei com o olhar que eu estava sorrindo. Ele ficou surpreso.
Como a testa e os olhos eram as únicas partes de meu rosto que não estavam escondidas pela palma da mão dele, mostrei com o olhar que eu estava sorrindo. Ele ficou surpreso.
Ele
não me conhecia.
Percebi que ele tentou balbuciar alguma coisa, mas palavra alguma saiu de seu ruído. Então repousei meu dedo indicador sobre seus lábios e apenas balancei a cabeça negativamente. "Não precisa se explicar", eu disse. E sorri. Ele sorriu.
Voltamos a nos beijar.
Percebi que ele tentou balbuciar alguma coisa, mas palavra alguma saiu de seu ruído. Então repousei meu dedo indicador sobre seus lábios e apenas balancei a cabeça negativamente. "Não precisa se explicar", eu disse. E sorri. Ele sorriu.
Voltamos a nos beijar.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
O Sábio e a Moribunda
Chorava tacitamente por tê-lo deixado partir. A menina de 13
anos se debulhava em lágrimas porque o suposto “amor de sua vida” havia
partido, provavelmente encantado por uma outra alma tão imatura quanto a dos ex-amantes.
Sentada na banqueta do piano e de costas para este, a menina soluçava alto e
balançava negativamente a cabeça. Simplesmente não conseguia suportar a ideia
de ter havido quebrado o seu coração. Pobre garota.
Seu avô, algumas décadas mais experiente e reflexivo, incomodou-se diante do desespero da decadente. Mas, já sabendo que longos discursos provavelmente não a atingiriam, resignou-se a escrever-lhe um bilhete com a seguinte frase:
Seu avô, algumas décadas mais experiente e reflexivo, incomodou-se diante do desespero da decadente. Mas, já sabendo que longos discursos provavelmente não a atingiriam, resignou-se a escrever-lhe um bilhete com a seguinte frase:
Não deixe que o laço que te une a outra pessoa seja mais
justo que o laço que te une a si mesma.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
Avenida Amaro George
Bob passava as noites em claro. Desde o dia em que fora
assaltado às 16 horas da tarde em plena Avenida Amaro George, nunca mais teve
sossego.
Retraçava aquela tarde em sua memória inúmeras vezes. Relembrava todos os seus passos e todos os locais que havia frequentado, remontado o curso daquele dia de diversas formas e imaginando-se não passando naquela avenida naquele momento e voltando para casa em paz, comendo amendoins torrados. E quanto mais se lembrava daquele dia, sentia um aperto no coração um tanto mais profundo.
Trancando em seu quarto (simplesmente não admitia mais a ideia de permanecer em um cômodo de sua casa com a porta aberta), Bob se olhou no espelho. Viu refletido um homem com ares de exausto, olheiras pretas abaixo dos olhos amassados e cabelo sujo desarrumado. Com trinta e cinco anos aparentava ter cinquenta. Olhou para o lado e vislumbrou sua escrivaninha com um porta-retratos em cima. Bob estava um homem completamente diferente daquele que sorria na foto ao lado de sua bela esposa, com uma criança a tiracolo.
Então Bob começou a lembrar-se de como sua vida havia mudado completamente nos últimos doze meses, desde o dia do assalto. Havia ficado carrancudo, mal-humorado e praticamente mudo. Não se interessava mais por nada. A única coisa que ocupava seus pensamentos era a retomada mental daquele dia infeliz, que o havia traumatizado de tal forma que ele não só perdeu a carteira e o celular, mas também o emprego, amigos, e até mesmo esposa e filho. Ninguém mais suportava ficar perto dele, ou ele não mais suportava ficar perto de alguém.
Abriu a segunda gaveta da escrivaninha e tirou de dentro uma arma. Era um revolver calibre .38 Special que havia comprado três semanas após o assalto, obcecado pelo medo de se sentir vulnerável outra vez nas mãos de um agressor. “É apenas um mecanismo de defesa, Jaque” justificava ele para sua esposa ao observar que ela quase teve um ataque do coração ao vê-lo chegando em casa com sua nova aquisição. “Eu não vou atirar em ninguém, é só para intimidar o filho-da-mãe”. Ele sempre se lembrava desse momento, uma vez que a compra da arma foi o estopim para sua esposa sair de casa.
Posicionou o revolver entre a calça e perna. Abotoou a camisa e saiu de casa. Tinha que sacar um dinheiro no banco. Andou até o ponto de ônibus e esperou o seu passar.
Retraçava aquela tarde em sua memória inúmeras vezes. Relembrava todos os seus passos e todos os locais que havia frequentado, remontado o curso daquele dia de diversas formas e imaginando-se não passando naquela avenida naquele momento e voltando para casa em paz, comendo amendoins torrados. E quanto mais se lembrava daquele dia, sentia um aperto no coração um tanto mais profundo.
Trancando em seu quarto (simplesmente não admitia mais a ideia de permanecer em um cômodo de sua casa com a porta aberta), Bob se olhou no espelho. Viu refletido um homem com ares de exausto, olheiras pretas abaixo dos olhos amassados e cabelo sujo desarrumado. Com trinta e cinco anos aparentava ter cinquenta. Olhou para o lado e vislumbrou sua escrivaninha com um porta-retratos em cima. Bob estava um homem completamente diferente daquele que sorria na foto ao lado de sua bela esposa, com uma criança a tiracolo.
Então Bob começou a lembrar-se de como sua vida havia mudado completamente nos últimos doze meses, desde o dia do assalto. Havia ficado carrancudo, mal-humorado e praticamente mudo. Não se interessava mais por nada. A única coisa que ocupava seus pensamentos era a retomada mental daquele dia infeliz, que o havia traumatizado de tal forma que ele não só perdeu a carteira e o celular, mas também o emprego, amigos, e até mesmo esposa e filho. Ninguém mais suportava ficar perto dele, ou ele não mais suportava ficar perto de alguém.
Abriu a segunda gaveta da escrivaninha e tirou de dentro uma arma. Era um revolver calibre .38 Special que havia comprado três semanas após o assalto, obcecado pelo medo de se sentir vulnerável outra vez nas mãos de um agressor. “É apenas um mecanismo de defesa, Jaque” justificava ele para sua esposa ao observar que ela quase teve um ataque do coração ao vê-lo chegando em casa com sua nova aquisição. “Eu não vou atirar em ninguém, é só para intimidar o filho-da-mãe”. Ele sempre se lembrava desse momento, uma vez que a compra da arma foi o estopim para sua esposa sair de casa.
Posicionou o revolver entre a calça e perna. Abotoou a camisa e saiu de casa. Tinha que sacar um dinheiro no banco. Andou até o ponto de ônibus e esperou o seu passar.
Timóteo havia dormido pessimamente mal aquela noite,
revirando-se e virando-se em cama, quando seu relógio de cabeceira o despertou.
Era o grande dia!
O rapaz de vinte e dois anos, carecido de dinheiro para alimentar seus vícios, tinha combinado com mais um colega fazer um “arrastão” naquele dia. Roubar dos transeuntes de um local fechado e em movimento. Nada poderia ser mais ideal do que um ônibus.
Timóteo estava preocupado. Diria desesperado. Não era de sua índole roubar algo de alguém, mas sua situação pessoal de dívidas e ameaças de morte o deixavam mais desesperado ainda. “Não vou machucar ninguém. Só levar deles aquilo que me faz falta. Tenho certeza de que eles conseguirão comprar seus bens de novo”. Repetia ele a todo o momento, como forma de se estimular.
Vestiu uma roupa preta, tomou um gole de café com leite o fumou um cigarro. Armou-se com uma faca (era tudo o que tinha), e saiu batendo a porta atrás de si.
Encontrou com seu colega próximo a uma banca de revista, local marcado por eles na noite anterior. Combinaram os últimos detalhes e partiram em direção ao ponto de ônibus mais próximo, que ficava na Av. Amaro George.
Enquanto caminhava até o ponto, Timóteo pensava o tempo todo em desistir. Mordia o lábio inferior tão forte por conta do nervosismo que logo começou a sentir um azedo gosto de sangue. Precisou fumar outro cigarro para se acalmar, mas o efeito esperado não aconteceu.
Ao chegarem ao ponto não precisaram esperar nem meio minuto e um ônibus apareceu. Timóteo olhou para seu comparsa, como que esperando que ele desistisse e os dois voltassem para casa comendo amendoins torrados, mas ele simplesmente balançou positivamente a cabeça. Fizeram sinal para o ônibus parar e então entraram.
Timóteo teria deixado tudo isso de lado e sentado em um banco qualquer, se seu colega não houvesse tomado a iniciativa de anunciar o assalto para todo o ônibus.
“Ouçam todos, isso aqui é um assalto” ele gritou. “Não precisam ficar nervosos, apenas quero que me passem tudo o que tiverem com vocês. Inclusive você” ele falou enquanto olhava para o cobrador e apontava para a caixa de dinheiro, e nesse momento mostrou uma pistola (que os passageiros não imaginavam, mas era de brinquedo).
Virou-se para Timóteo e falou: "Enquanto eu pego esse daqui (referindo-se ao cobrador) tu vai e rouba esses que tão sentados aqui na frente".
Ao pular a catraca, Timóteo caiu duro no piso do ônibus.
Alguns passageiros gritaram ao verem que uma poça de sangue aos poucos se alongava em torno dele.
Ao ver o ocorrido, o comparsa encostou a pistola na testa do motorista e ordenou-o a parar o ônibus. Desceu correndo.
Acontece que sentado no primeiro banco do ônibus estava ninguém menos que Bob, que não pensou duas vezes e cravou uma bala no peito do “filho-da-mãe”. Sua reação foi como um reflexo. Ele simplesmente fez.
O rapaz de vinte e dois anos, carecido de dinheiro para alimentar seus vícios, tinha combinado com mais um colega fazer um “arrastão” naquele dia. Roubar dos transeuntes de um local fechado e em movimento. Nada poderia ser mais ideal do que um ônibus.
Timóteo estava preocupado. Diria desesperado. Não era de sua índole roubar algo de alguém, mas sua situação pessoal de dívidas e ameaças de morte o deixavam mais desesperado ainda. “Não vou machucar ninguém. Só levar deles aquilo que me faz falta. Tenho certeza de que eles conseguirão comprar seus bens de novo”. Repetia ele a todo o momento, como forma de se estimular.
Vestiu uma roupa preta, tomou um gole de café com leite o fumou um cigarro. Armou-se com uma faca (era tudo o que tinha), e saiu batendo a porta atrás de si.
Encontrou com seu colega próximo a uma banca de revista, local marcado por eles na noite anterior. Combinaram os últimos detalhes e partiram em direção ao ponto de ônibus mais próximo, que ficava na Av. Amaro George.
Enquanto caminhava até o ponto, Timóteo pensava o tempo todo em desistir. Mordia o lábio inferior tão forte por conta do nervosismo que logo começou a sentir um azedo gosto de sangue. Precisou fumar outro cigarro para se acalmar, mas o efeito esperado não aconteceu.
Ao chegarem ao ponto não precisaram esperar nem meio minuto e um ônibus apareceu. Timóteo olhou para seu comparsa, como que esperando que ele desistisse e os dois voltassem para casa comendo amendoins torrados, mas ele simplesmente balançou positivamente a cabeça. Fizeram sinal para o ônibus parar e então entraram.
Timóteo teria deixado tudo isso de lado e sentado em um banco qualquer, se seu colega não houvesse tomado a iniciativa de anunciar o assalto para todo o ônibus.
“Ouçam todos, isso aqui é um assalto” ele gritou. “Não precisam ficar nervosos, apenas quero que me passem tudo o que tiverem com vocês. Inclusive você” ele falou enquanto olhava para o cobrador e apontava para a caixa de dinheiro, e nesse momento mostrou uma pistola (que os passageiros não imaginavam, mas era de brinquedo).
Virou-se para Timóteo e falou: "Enquanto eu pego esse daqui (referindo-se ao cobrador) tu vai e rouba esses que tão sentados aqui na frente".
Ao pular a catraca, Timóteo caiu duro no piso do ônibus.
Alguns passageiros gritaram ao verem que uma poça de sangue aos poucos se alongava em torno dele.
Ao ver o ocorrido, o comparsa encostou a pistola na testa do motorista e ordenou-o a parar o ônibus. Desceu correndo.
Acontece que sentado no primeiro banco do ônibus estava ninguém menos que Bob, que não pensou duas vezes e cravou uma bala no peito do “filho-da-mãe”. Sua reação foi como um reflexo. Ele simplesmente fez.
Pobre Timóteo, que não pretendia machucar ninguém mas foi morto violentamente e agora pagaria com a vida o seu erro.
Pobre Bob, que nunca pretendeu machucar alguém mas agiu impetuosamente e agora pagaria atrás das grades pelo seu erro.
Afinal, o que você faz daquilo que fazem de você?
sexta-feira, 22 de março de 2013
killing pain
Sharp blades made of steel
Tearing flesh and skin
Let it bleed and then you'll feel
You can't run away from sin
Hopeless memories fade in time
while you try to keep them safe
The past is nothing but a lie
Fate is death and you can't escape
Cold tears flows from your eyes
As you try to write a note
it's just the body that dies
While it hang up on a rope
There's nothing left for you here
Except the pain of another day
That you spend hoping to hear
"Come and share with me the weight"
Sharp blades made of time
Will erase the killing pain
Memories passing by your eyes
Just before you blow your brains
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Insônia
E de repente você sente aquele sopro chamar no meio da noite. O corpo precisa dormir mas a mente desperta. Instintivamente procura um foco de luz, algo que possa tirar-te da inércia do luar. Ao conferir as horas, descobre que esta ainda não era a hora de acordar. está muito cedo ou muito tarde, e você se sente sozinho. Como se toda a sua vitalidade houvesse partido com os últimos raios do sol. "Só mais duas horas até todos acordarem também", você se consola. Mas sabe que nada seria confortante agora, a não ser o descanso em fim.
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