sexta-feira, 9 de julho de 2010

Última Valsa

Ela me pediu para descansar em paz e disse que estava tudo acabado agora.
-Tudo acabado, como assim? Enquanto meu coração bater e bombear sangue para o meu corpo, nada está acabado! –Supliquei.
-Pois é, o problema é que ele, há um tempo, não bate mais. –Ela respondeu com um sorriso. -Vamos, pare de negar que tudo se foi. Apenas vista uma roupa confortável e me acompanhe. Está frio demais aqui fora, não me faça esperar.
-Frio demais? Deve estar de brincadeira! –Eu falava enquanto senti os braços dela envolverem-me como pedras de gelo. –Como é que você, gélida, pode sentir frio?
-Sinto coisas que vocês humanos nunca imaginaram que possa existir.

Então ela me carregou em seus braços até o meu apartamento, atravessou a porta sem precisar de chave e me largou estendida em minha cama. “Foi aqui que eu te encontrei” desabafou.
Troquei de roupa rapidamente, escolhi minha longa e confortável saia, um par de meias e minha blusa preta. Tudo preto.
Comecei a me despedir dos meus gatos, um por um, enquanto ela acariciava meu cabelo. Senti seu ar frio em contato com minha orelha. “Hora de partir” ela sussurrou. Respondi com um sorriso e deixei minha alma leve. Era tudo que me restava, agora. Minha alma.
Ela pegou-me em seu colo e eu me senti leve, muito leve. Só não entendi por que as lágrimas insistiam em rolar no meu rosto.
“Isso é normal” ela explicou ao me ver chorar “Todos que dão o mínimo de valor à vida ficam tristes na hora de partir”.

Viajamos juntas durante horas, me pareceu. Ao longo do caminho eu comecei a ouvir notas muito distantes e uma voz suave cantava uma canção. Era a última valsa, percebi.
Deslizei pelo corpo dela e parei à sua frente. Estávamos flutuando. Peguei uma de suas mãos e a estiquei junto com a minha, a outra pus em suas costas. Senti muito frio, mas isso não importava.
Dei o primeiro passo, e ela me acompanhou. Olhei em seus olhos e vi que ela queria dançar também. Começamos a girar magnificamente, descer e subir, dando os passos da mais doce valsa que alguém já dançou, rodopiando no ar.
O relógio soou. Ela estacou, aproximou-se dos meus lábios e soprou.
Frágil, minha alma amoleceu em seus braços.

Fui conduzida ao reino dos céus e nada mais me lembro.

9 comentários:

  1. Com certeza essa é a melhor! Muito Talentosa você =)
    -DU

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  2. nossa....faz a gente sonhar...de novo......

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  3. Valsar a valsa descrita por vc, foi a melhor coisa que me aconteceu hoje!
    Alguém me falou sobre esse texto(ou muito mais que texto), não me lembro bem quem... mas sei que foi um momento de intenso prazer, onde as sensações corporais me enloqueciam, tudo de muito bom..........
    Valeu a dica meu querido yellow submarine!
    Incrível, o seu escrito(já que não o sei definir)

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  4. Parabéns, belo texto.
    continue com esse talento, que voce vai longe. bjs Ina

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  5. Um amigo fêz comentários sobre seus textos,conferi e gostei.Parabéns!

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