O clarão de um relâmpago iluminou a sala de estar, despertando Lisa de seus pensamentos.
Olhou em volta e percebeu que o filme que estava assistindo havia terminado, e a tela não mostrava nada além de alguns pequenos nomes escritos em branco num fundo preto.
Um trovão.
Calçou suas pantufas, desligou a TV e subiu para o seu quarto. Estremeceu com o frio ao encontrar o aposento com a janela aberta, e foi rapidamente fecha-la. Parou em frente o vidro e observou por alguns minutos. Então deu meia volta, deitou-se na cama, pegou seu caderninho de cabeceira e escreveu:
Está chovendo lá fora enquanto eu estou aqui no meu quarto encostada na minha cama quente, e toda vez que eu olho pela janela, inevitavelmente me pergunto onde estarão agora todas as pessoas que durante o dia fazem das ruas seus lares.
Elas não têm um teto ao qual podem chamar de seu, nem uma parede para barrar a corrente de vento. Pois suas paredes são o próprio vento, e em vento não se pode pendurar um quadro.
As nuvens carregadas são o seu teto, e este não dá para ornamentar.
Esses pingos de chuva agora invadem seus becos, molham seu chão e banham seus cobertores.
Elas estão lá fora nesse exato momento. E eu estou aqui me achando pequena demais, insignificante demais e, pior, rica demais para tentar mudar isso tudo...
Então você pensa: deixa molhar, deixe estar.
"E eu pensava naqueles que podiam respirar, mas que não mereciam estar vivos; pensava também nos milhares de seres humanos que também morreram asfixiados, assim como eu. De repente me senti menos especial. Senti como se talvez eu também não merecesse aquele oxigênio que fora tirado de mim. Consegui me ver como quem eu realmente era: apenas mais um corpo perdido, afundado, asfixiado, naquela imensidão azul."
ResponderExcluirRealmente... somos pegos nos achando tão exclusivos e superiores que nos esquecemos de nossa insignificância.
Belas palavras, Eny
ResponderExcluir... e eu aqui me sentindo pequenina diante de vocês!!!
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