Ela morava no prédio em frente ao meu cursinho de francês.
2º andar, primeira janela da direita para esquerda.
Foi numa quinta-feira durante uma longa e entediante aula de língua francesa que eu me distraí e deixei-me levar pelo movimento dos carros e pedestres na rua lá embaixo.
Pessoas passando e carros buzinando. Fazia frio lá fora.
Até que fui despertado de meus devaneios por uma singular imagem que me fez virar o corpo em direção à janela, e esquecer de fato a aula que rolava na sala em que eu me encontrava sentado.
Havia uma garotinha de 5 anos, no máximo, na varanda do prédio em frente, trajando apenas um vestido rosa e um laço no cabelo. Movimentava seu corpo de forma aleatória e delicada, enquanto seus bracinhos serpenteavam levemente acima de sua cabeça.
À distância em que eu estava, e com o vidro da janela fechado, não era possível ouvir música alguma proveniente de seu apartamento. Logo, aos meus olhos, a menina dançava o som da cidade. Dava pequenos pulinhos e movia o pescoço, enquanto ria sozinha.
Outro aluno sentado ao meu lado percebeu o que me chamava a atenção, e observou a garotinha dançar também. Depois riu debochando da felicidade alheia – o que me enfureceu momentaneamente.
Mas mesmo com alguns pedestres que riam de seus movimentos, a garotinha parecia não se incomodar. Continuava majestosamente sua dança e ria deliciosamente, como só as crianças fazem.
Ela não voltaria mais. Eu não mais veria seus passinhos. Então guardei na memória aquele doce momento que vos contei aqui.